24 de março de 2007
Raks Sharki
Ao sol poente, a rapariga entra no círculo onde se ouvem já os primeiros acordes hipnóticos da flauta. Estática, de olhos fechados começa por esboçar um sorriso através do véu translúcido e logo a sua mão esguia coberta de desenhos entrelaçados ganha vida e enceta um percurso lento, contorcendo-se no vazio como que buscando a mão invisível de um qualquer amante até que uma voz masculina começa a ditar o ritmo da anca. Primeiro ondulante, sensual... O homem fala de amor, um amor proibido mas a rapariga sorri ainda e descreve círculos na areia com os pés descalços que são imitados pelos quadris que parecem não pertencer àquele corpo. O homem continua a chorar a amada...Os braços ondulam eternos no horizonte que escurece, fazendo esvoaçar o véu que antes cobria o rosto queimado do sol.
Os tambores emprestam agora um novo andamento ao corpo solto fazendo as pulseiras, as correntes, o cinto de pendentes tilintar. Os amantes reencontram-se, o ritmo acelera, a alegria é imensa! A rapariga rodopia enquanto requebra a anca, os braços emolduram o rosto, descem percorrendo as curvas evidenciadas pelos movimentos ondulantes. A entrega é já total: à música, à Alegria, ao Amor.
Todos em volta batem palmas acompanhando a odisseia dos amantes: a sua união será eternizada nesta dança que século após século relata a Vida, a Morte,o Amor...
Anita acorda... Dançou também com a rapariga. Era ela própria a rapariga. Ainda soam na sua mente os tambores, as palmas. Nos pés sente ainda a areia quente.
A seu lado dorme ainda o amante para quem dançou. Tem o coração pleno de Alegria.
1 marcaram este mundo
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